Poemas...

Poemas...
...nossas vidas não nos pertencem, e o que era biônico ontem é biônico hoje, no Pacote, não de Abril, mas de Janeiro a Dezembro. Mesmo assim tenho que vestir as vestes opacas do Estado, de chorar lágrimas de crocodilo, de fofocar sobre a ascensão de mais uma oligarquia, de ouvir menos Rachimaninov e curtir mais a tal Folia, e o mais cruel de tudo: resignar-me com a soberania do veredicto... (Anderson Costa)

quinta-feira, 28 de julho de 2011

19.


Às portas fechadas sonego o flerte da oposição,
o são mutualismo de chochos inventários
e os ávidos comícios no revés da ocasião,
pois vou, de mãos atadas, a ser como o vigário,
semblante à mostra por ser da comissão
os simples argumentos e os falsos maus boatos:
o de que, sem demora, põe-me fim ao meu sermão
e nega os habeas-corpus intrínseco aos meus atos.
Sem fim, já findado, derrubam-me os nocautes
provenientes, assiduamente, dos restos vegetais,
dos restos fedorentos de incensos arrabaldes
embora, sem consenso, às bocas não orais,
refuto-me, ó negra sã cor em mim blecaute,
ao tumor ideológico tão vendidos nos jornais.

2.


Ó coaxante crueza em mim recém-nascida,
a tua nomenclatura é foco de vis moscas,
é foco, outrossim, de memórias parricidas
ó crueza coaxante de epopeias meio roucas.
Ó prostituídas eticéteras, ó ser reumático,
às cerimônias semestrais fervem-lhes iminentes
prematuros atos, até mesmo o pós-traumático
fétido vômito, ó minhas solas tetas, ó meu nutriente.
Ó dor crônica de procedência: “Made in Brazil”,
correligionária assídua de atípico insinuado
a parir, sem o querer, o enfeitar de algum til,
logo após abortar, e não sendo o culpado,
o suposto arcabouço de um menino viril
e a prostrada prótese do meu ser assolado.

terça-feira, 26 de julho de 2011

4.

Resignado ao fétido versar do pus
em meio à morte de um defunto poema
que, na verdade, soma-se ao eu e aos tus
os cacarejar de um eterno morfema,
todas as obras que a si não faz jus
o delinear da teoria e o sistema,
tanto o hipodérmico à filosofia dos “us”
quanto o chorar de um marxismo capenga.
Fazendo-se em chagas o nascer semimorto,
em laços e nós desatados num aborto
aquele resumo que em mim não compensa
as fezes já secas de um poeta enrugado,
as teses e os meses em si mal acabados,
as obras e as borras postadas em despensas.

5.


À galope vou cavalgando a trotes largos
sobre as ossadas cadavéricas agora só anseios,
em mim somente sendo o ferimento árduo
proposto, sem o mamá-lo, desnorteados seios,
as mães e as madrastas a serem usurpadas
por emurchecidos filhos guiados junto ao relho,
ao menos pela cirrose às póstumas chupadas
laranjas só bagaços, quando eu fora o alheio,
dessa insuficiência renal um pouco consumada
sabendo sê-la do rim o nó em que nomeio
com todos os agnomes a ser de mó chamada
as patotas subalternas e a praxe que alteio,
findando os musses de pus, como fora findada
as vísceras vizinhas desse borrado asseio.

segunda-feira, 25 de julho de 2011

15.


À revelia não desfio o fio do ensejo
propício à esta hora ou à amante precavida,
e dizem-lhes os negros: da alforria o sobejo
ou então, ao proletário, a decente mais-valia.
Assim se faz, em vão, o último dos desejos
e sobre o ninguém conforme me valia
há a pobre missa de sétimo dia ao cabresto
postada como o menstruo de uma fêmea agonia.
Às dores do que de cócoras não fora, de antemão,
as chagas purulentas no ventre do anteontem,
papeis que convalidam o fim da união
em mim só derramando as placentas do seu ontem:
um término início de vulgar especulação,
um pouco do que afora é hemorragia que me rompe.

1.


Ó chão mumificado de pouca utilidade,
ainda não descobrir o porquê das misérias,
nem tampouco o bolor e o sabor das idades
a sabê-las afins o genitor das matérias,
engulhando à revelia o que fora debalde
o regresso antiquado do que não fora velha,
mas o que, na mesmice, não compete à saudade,
ao escarro indecente e ao progresso da guerra.
Ademais, foste ao nada o tardar do ofício,
e com ele o Deus novo e a teoria de um ateu,
assim como o empanar de um velhaco orifício,
assim como o furtar do que não era meu,
com a ojeriza de um ato legal tão ilícito
na escritura do débito de um tal Fariseu.