Poemas...

Poemas...
...nossas vidas não nos pertencem, e o que era biônico ontem é biônico hoje, no Pacote, não de Abril, mas de Janeiro a Dezembro. Mesmo assim tenho que vestir as vestes opacas do Estado, de chorar lágrimas de crocodilo, de fofocar sobre a ascensão de mais uma oligarquia, de ouvir menos Rachimaninov e curtir mais a tal Folia, e o mais cruel de tudo: resignar-me com a soberania do veredicto... (Anderson Costa)

segunda-feira, 22 de agosto de 2011

Palavrório



“Dentro em saco de estopa
meus ossos se decompõem,
mesmo ao corpo sob moscas
em cerúleo de outras polpas
dentro ao vão que não se põe.
E nem sei quais os sabores
há de haver tantos sofreres,
nem tampouco tantas dores
no querer dos vis amores
ao cobrir-me de outros seres.
Quando me tingem de amarelo,
das cores de falecidos santos,
torno a não ser quais os  elos,
até quando não me melo
no cagar dos muitos prantos.
Na babugem de algum enfermo
resta um Deus nos acuda,
resta os fins de alguns cabelos
sobre a calva um tanto nua,
o relinchar a ser dos termos
o que das tetas são maduras.
Ó meu frouxo apetite
empilhando-se por abadias
na luz solar das hepatites,
na anemia das  negras vidas,
um duradouro cal de alvitres
num rebolado de heresias.
O meu enxoval de auroras
não reside às outras lápides,
assim como as minhas horas
é a tua doce amora
qual a prova de algum álibi.
Sim, queres o fel das ficções?
Então se empanturre do postiço
céu, das defuntas sanções,
dos verbos mal cozidos,
tombando em becos e memórias,
nos órgãos de grosso reboco;
em pênis de muitas escórias,
em carne e vermes de um morto.
Ah, quantas mortes em mim épicas
são anexadas em relicários,
assim são-me mais histéricas
os artigos de outras éticas,
o solar sem sois de ovários.
Quantas obras em verborreias
de amores tão univitelinos,
tanta prosa em diarreia
consumindo meus caminhos,
consumindo-me a traqueia
e as fadigas de um domingo.
Oh! Vou-me às romarias
sob os rogos de pigarros,
sob a borra das marias,
em espaços que não cabo
à matéria das espinhas,
ao intestino tão delgado.”
                                            

terça-feira, 16 de agosto de 2011

Suplício


Ó meu costume afano
de tirar-lhe os sujos panos
da coberta vã ferida.
Meus ossos são de iodo
no turbo de um teu outro,
em ofício de rapariga.

Ó dias e noites já idas,
não esqueçam-se das minhas
oferendas não dadas,
dos meus dízimos em centavos,
das orações que te pago
pra poderes cumpri-las...

...ó coice que me quebra,
ó foice que me verga
aos corações engavetados.
Por que me pões nu
no alheísmo deste u,
em outro gozo apergaminhado?

Ó poros que me unem
à vagina, à um hímen,
fechando-me ao desprazer,
conquanto em minha pátria
inexiste a tal Pasárgada
deste irredutível ser.

segunda-feira, 15 de agosto de 2011

EPÍSTOLA


Caríssima parede deste quarto:

Segues teu caminho e tua doutrina, pois a minha eu mesmo crio e sigo. Odeio-te por ter que lhe falar deveras e mesmo assim permanece surda a toda esta sinfonia oca. Quanto mais falo, vejo e ouço mais vontade tenho de adentrar ao Hades em busca do desagrilhoamento eterno da excessiva faina das Danaides. Sei que é uma delas e mesmo assim nada tens de inopinada. Estás engaiolada qual um pássaro cheio de efêmeras saudades. Porventura, sentes repugnância pelo vazio? Temes os desvãos do que seja longínquo e inodoro? Por que ainda insiste em falar de amores? Não sabe o quanto me transtorna seu palavratório convicto, suas conclusões ortodoxas. Por isso peço: “queima-me com sua súcia de inquisidores! Queima-me juntamente com este Contrato Social que nos cospe e que te faz sorrir em concomitância!

Por isso continuas macilenta e fincada por sobre este assoalho postiço. Por isso ovaciona com entusiasmo qualquer verdugo astuto e benfazejo, mas, perante a ti calado permaneço. Não mereces ouvir o que tenho cá dentro. Assim sigo a vida, a sorrir internamente de tua boca enxovalhada e de tuas insípidas palavras sem nexo e em congruências, a fazer-me crer que tão somente estou no fim, que tão somente sou o fim. Não sou a ponte entre o macaco e o super-homem como dizia o brilhante Nietzsche, não sou o elo, mas o sim o fim.

Andas insistentemente como um burro de carga, com viseiras laterais, a olhar somente o que há à frente. E assim sorrio para as estrelas. Sorrio de todos os que não se deixam gritar-se a si mesmos rentes a essa planície umedecida. Sorrio de ti parede macilenta.

Anderson Costa

sexta-feira, 5 de agosto de 2011

43.


Sem utilidade pública, o meu ser não lhe apetece,
enquanto é vigente a varíola das moscas
com a utilidade a ser dor que arrefece
insanos malogros como foram-me moças,
do fisco aos fieis na ojeriza das preces
ao impávido colosso de nação feito sócia,
ó mau capital que entorpece as espécies
de porcas auroras no viés de uma fossa.
Sem utilidade, são-me em vãos os meus prognósticos
e as genitais femininas em um só diagnóstico
dos cetáceos a ser do organismo o sangue.
Sem utilidade é o doar de pouca oferenda,
apesar do ser sê-la o digerir da merenda
embrulhada na toga e o vestir de algum mangue.

7.


Caem sobre mim a fatalidade das idolatrias
sujando-me as vestes de um colorido opaco,
sem revés, no viés e rezar das marias
a entupir todo o âmago de um maldito orgasmo.
E o então da conclusão já não é de valia
como fora o azul de um papel não almaço
sem os contudos e tudo que têm sim serventia,
mas não servem à edificação de um holocausto.
Entretanto, sumiram os porventuras da nudez
excessivos de um amiúde fim de mês,
desdobrando assim aos pressupostos de uma fêmea
menstruada no eterno cal dos homens,
a prostração sobre o leito de um só hímen
no definhamento das sogras tão ferrenhas.